sexta-feira, 16 de abril de 2010

A uma ausência


Sinto-me, sem sentir,
todo abrasado no rigoroso fogo que me alenta;
o mal que me consome me sustenta;
o bem que me entretém me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
o que mais perto vejo se me ausenta,
e o que estou sem ver mais me atormenta;
alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
no mor risco que me anima a confiança;
do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
é porque, entre os receios da mudança,
ando perdido em mim como em deserto.


Antonio Barbosa Bacelar
Século XVIII
(Poema com imagem extraído da net)

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