segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pobres dos ricos...tanto lá como cá...


Pobres dos nossos ricos Mia Couto - Poeta Moçambicano

POBRES DOS NOSSOS RICOS

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.


Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem.


Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados

usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.

Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.

Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem ...


MIA COUTO

(foto google) - Enviado por Lucília Ramos

Soneto de José Régio


Soneto quase inédito, mas bem actual...

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO

Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.

( Foto google) - Soneto enviado por Eduardo Aleixo

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os degraus da vida!



É um sonho louco este nosso mundo! Que bela e sincera frase é esta?!


Se sonhamos muito, se construimos ideias com ideais à mistura, os sonhos envolvem-nos, dando aso ao objectivo, à expectativa, de forma a construirmos um degrau que nos faça subir o ego, o desespero, a falta de afirmação, a criatividade e a bondade de sermos alguém!

Sonhos fantasmas que imperam num mundo em que nada mais há a dizer, a fazer, a alertar, o sótão está repleto de velharias e todas elas estão cansadas de transmitir as mesmas coisas. Estamos gastos e desgostosos? Já não nos move deitar a escada contra a parede e subir ao palco da vida? Os deuses não querem mais heróis?


Eu não quero descer os degraus da vida...quero subi-los um a um, a custo, mas com coragem suficiente para enfrentar os monstros, destruí-los e dizer às crianças que a vida não é assim! Não há fantasmas! Apenas há gente muda, acomodada, silenciosa, medrosa, cansada de promessas vãs e que não consegue gritar "chega", nem subir, nem descer...paralisada de tanta passividade, de tanta falta de acção para com um mundo que a não deixa tirar as máscaras de um salto só...e subir os degraus, ver a verdade, o mistério, o porquê de termos tanto medo de subir os degraus da vida! Onde está o enigma? Quando começam os trabalhos manuais de desatar os "nós" deste "não chove não molha"?

Pobres crianças...que nos têm como monstros calados perante as suas inocências!


Nela

(Foto google)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fernando Pessoa ( BELÍSSIMO! )

Minha vida é a maior empresa do mundo...

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935)

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrarum oásis no recôndito da sua alma .
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)
- Belíssimo poema! Enviado por Lucília Ramos

terça-feira, 25 de maio de 2010

A mulher e a cereja!



Quem não gosta de cerejas? Quem não as come sem parar...quase que engolindo o caroço?

Vermelhas, pretas, doces e ácidas ( que são as que dão para fazer ginja ), são elas o nosso entretém no meio de uma conversa, são elas que nos enfeitam os lábios, as orelhas, o pescoço e são elas o afrodisíaco aos olhares dos nossos amores!

Eu gosto muito de cerejas docinhas, porque quando é tempo de as comer, são tão escassas, tão caras, fogem depressa do mercado que quase não consigo apanhá-las! Mas ficamos tão sexis a comê-las...que é preciso apanhar as oportunidades de demonstrar a nossa afectividade que quer com com a cereja ou o morango, nos torna mais vermelhinhas, mais dispostinhas a acariciar o fruto que comemos!

Cerejas do meu pensamento até onde me levas? Ao meu sonho de mulher?
Eu quero optimismo e muitas cerejas à mistura, quero me enfeitar com elas e dizer também que sou madurinha e muito docinha e que nasci de uma cerejeira em flor que deu muitos frutos sãos: a minha mãe é a flor cerejeira mais bela que o mundo viu florir!

Obrigada mãezinha por tantas cerejinhas que geraste!

Nela

(fotos google)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Mulher e homem

O homem pensa.

A mulher sonha.

Pensar é ter cérebro.

Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano.

A mulher é um lago.

O oceano tem a pérola que embeleza.

O lago tem a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.

A mulher, o rouxinol que canta.

Voar é dominar o espaço.

Cantar é conquistar a alma.

O homem tem um farol: a consciência.

A mulher tem uma estrela: a esperança.

O farol guia.

A esperança salva.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.

A mulher, onde começa o céu!!!


( Fotos google)

terça-feira, 18 de maio de 2010

A mulher madura


A Mulher Madura
O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.
De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.
Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.
A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.
A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.
Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.
Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.
Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.
A mulher madura está pronta para algo definitivo.
Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.
A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.
Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.


Affonso Romano de Sant'Anna
(Foto google)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Discurso de Charles Chaplin

(foto google)
O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

(O Último discurso, do filme O Grande Ditador) Charles Chaplin

Durante a nossa vida:

Conhecemos pessoas que vem e que ficam,

Outras que, vem e passam.

Existem aquelas que,

Vem, ficam e depois de algum tempo se vão.

Mas existem aquelas que vem e se vão com uma enorme vontade de ficar...


- É a minha referência como humor, inteligência e actor - do mais requintado que houve até aos dias de hoje!!!
Até parece que vai haver ditadura de novo por cá... NÃO ACREDITO! MAS A COISA ESTÁ FEIA!
Nela

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mensagem Angels

Como atrair coisas boas - O poder de fazer
Deus

Não pretende que seus filhos vivam em pobreza,
doença ou em qualquer outra condição penosa.

Cada um de nós tem dentro de si o poder de fazer
e se tornar aquilo que bem desejar.

Quando primeiro procurarmos o Espírito de Deus
em nosso íntimo e aprendermos a seguir Sua Divina
orientação, toda felicidade e paz virá ao nosso encontro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Canto dos Ventos nos Ciprestes


Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada daquilo que disseste quando os meus seios começaram a crescer.

O amor foi tão parco, a solidão tão grande, murcharam tão depressa as rosas que me deram – se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos, só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais que a escuridão por cima.

Ainda por cima, matei todos os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia, deitei-me com mais homens do que aqueles que amei e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.

Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez não chames pelo meu nome, não me peças que fique – as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer.

A esta hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.

Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão tão grande, e as rosas que disseste um dia que chegariam virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.

De "O Canto do Vento nos Ciprestes", Gótica, 2001, 80 pags.

(Imagem extraída da net) - (Poema enviado por Lua Cunha)-

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Afectividades!


Ai, quem me dera
Ai quem me dera, terminasse a espera
E retornasse o canto simples e sem fim...
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor
Ah! Se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais
Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afins
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim
Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguem chamar por mim...


Vinícius de Moraes
(Imagem extraída da net)
Gostei deste poema de Vinicius e misturei-o com cerejas, que são o meu símbolo de afectividade!