tag:blogger.com,1999:blog-7875340490301735518.post2028182413075237449..comments2023-06-06T16:05:13.065+01:00Comments on Cerejas de Maio: Pobres dos ricos...tanto lá como cá...Manuela ramos Cunhahttp://www.blogger.com/profile/18112202888466786219noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-7875340490301735518.post-25697650903271211132010-05-31T16:27:10.902+01:002010-05-31T16:27:10.902+01:00Nelinha,li há pouco tempo este texto do Mia. Decor...Nelinha,li há pouco tempo este texto do Mia. Decorre da conhecimento que ele tem da realidade do mundo e do seu país e da sua capacidade de análise. Imagino que deve sentir uma grande frustração... a memória de Eduardo Mondlane, Josina Machel, Samora Machel e outros não tem sido devidamente "guardada". É o mundo desconcertado em que vivemos(e repara, de que Camões já falava).<br />Gosto da escrita de Mia Couto. Estou a ler, neste momento, o seu romance "Jesusalém". Lindo, fundamentalmente pela boca do narrador. Por isso, gostaria de te deixar aqui um curto excerto... retira as conclusões que quiseres.<br />Excerto:<br />(...)<br />-Ntunzi, me diga: como é um avô?<br />Para minha grande inveja, Ntunzi cnhecera a inteira colecção dos avós. Talvez por pudor, nunca falava deles. Ou, quem sabe, tivesse receio que meu pai viesse a saber? Silvestre Vitalício interditava as lembranças. A família éramos nós, sem mais outros. Os Venturas não tinham antes nem depois.<br />- Um avô? - inquiriu Ntunzi.<br />- Sim, me diga como é.<br />- Um avô ou uma avó?<br />Tanto fazia. Na verdade, não era a primeira vez que lhe dirigia a mesma interrogação. E meu irmão nunca respondia. Ficava contando pelos dedos como se a ideia desses progenitores nascesse de delicados cálculos. Ele contava, sim, por inalgarismos.<br />Nessa noite, porém, Ntunzi deve ter completado a contagem. Porque foi de sua vontade que retomou o assunto, já eu arrumado entre os meus lençóis. Entre as mãos arredondava um vazio, com cuidados de quem transporta uma pequena ave.<br />- Quer saber como é um avô?<br />- Sempre lhe perguntei, você nunca respondeu.<br />- Você, MWanito, nunca viu um livro, pois não?<br />E explicou-me como era composto esse tentador objecto, equiparando-o a um grande baralho de cartas.<br />- Imagine cartas do tamanho de uma mão. Um livro é um baralho feito dessas cartas, todas coladas do mesmo lado.<br />O olhar dele não tinha destino quando passou a mão sobre um imaginário baralho de cartas e disse:<br />- Você acaricia um livro, assim, e sabe como é um avô.<br />(...)Fim do excerto.<br /><br />O poema do Régio é, sem dúvida, muito actual. Parabéns para o Eduardo. <br /><br />Muitos beijinhosLua Cunhanoreply@blogger.com